O governance não se resume às empresas com fins lucrativos. As organizações sem fins lucrativos, nomeadamente as organizações desportivas são parte fundamental da sociedade e o bom governo tem aqui uma importância talvez redobrada. Neste artigo recente, na CityA.M de Londres, o Dr Filipe Morais e os seus co-autores discutem alguns dos resultados da sua investigação sobre o governance no desporto. A sucessão de escândalos no desporto no UK tem colocado em evidência problemas de governo, relativamente ao profissionalismo dos Administradores Não-Executivos e a emergência de culturas tóxicas de abuso e racismo. A House of Lords ja se pronunciou sobre o assunto em 2017, e nesse mesmo ano foi introduzido um código de governo para todos os desportos no UK que recebem financiamento do estudo. Os requisitos de governance estão distribuídos em 3 tiers, com exigência crescente em razão dos montantes e frequência de financiamento.
E em Portugal? Por exemplo, no futebol, assistimos ha décadas a constantes suspeições e alegações de comportamentos por parte dos clubes e dos seus agentes pouco éticos, ilegais e mesmo criminosos; as suspeições sobre a arbitragem; as relações por vezes pouco claras entre clubes, poder político e comunicação social; e ao descalabro financeiro dos clubes, sem que as instituições sejam capazes de criar os checks and balances para resolver os problemas. A forca para influenciar e condicionar as “regras do jogo” continua a estar do lado do regulado (2 ou 3 clubes), e não do lado do regulador (Federação Portuguesa de Futebol, e Governo de Portugal).
Urge, portanto, a criação de mecanismos de governance efectivos que possam garantir os mais elevados padrões de conduta por parte dos agentes do futebol em Portugal. Um código de governo para os clubes?