Em Fevereiro deste ano, o CEO do Deutsche Bank, Joseph Ackermann sustentou, numa intervenção pública, que a presença de mulheres na administração de sociedades era positiva. Em defesa da sua ideia, aliás inaplicada no próprio banco (a única administradora deixou funções há 15 anos), acrescentou Ackermann que a representação feminina traria “maior colorido e beleza” ao board. A justificação alegada deu causa a uma compreensível espiral de ira.
Este episódio é ilustrativo. O debate sobre os benefícios da representação de mulheres na administração não descola habitualmente de um nível rasteiro, tão contaminado que está por pensamentos demagógicos, de sinais opostos.
O tema, contudo, é bastante sério. Em tempos recentes, o fluxo de estudos sobre a presença feminina nos conselhos de administração tem-se alargado e ocupa um lugar de destaque no âmbito do corporate governance (entre muitos: http://corporatelawandgovernance.blogspot.com/2011/02/deloitte-report-published-women-in.html ).
O assunto, aliás, exibe particular relevo em Portugal. No nosso país, a maioria de população universitária feminina contrasta com um triste record de défice de representação feminina nos boards de sociedades cotadas. Na Europa, em média, as mulheres detêm somente 11,7 % dos cargos de administração de empresas de grande dimensão. Em Portugal, segundo um estudo da Governance Metrics ontem divulgado (http://info.thecorporatelibrary.com/Default.aspx?app=LeadgenDownload&shortpath=docs%2fWomen+On+Boards+2011.pdf ), a média nacional é apenas de 2,3%. Nenhum outro país europeu conhece números tão baixos.
Como reagir a este cenário? A resposta pode implicar um empenho maior na frente recomendatória ou uma intervenção legislativa. A primeira via está a ser explorada no Reino Unido. Quanto à solução mais impositiva, cabe assinalar que, na semana passada, a Bélgica juntou-se à Noruega na preparação de uma lei a impor quotas femininas na representação de sociedades cotadas. As sociedades cotadas belgas serão obrigadas a manter 1/3 de mulheres na administração.
A análise do tema deve, pois, prosseguir. Mas pede-se que tal aconteça de um modo cientificamente apoiado e desacompanhado de preconceitos – sejam estes feministas ou machistas. E pese embora a assimetria de oportunidades seja patente, parece mais importante que a análise, no prisma da governação, se centre nos benefícios da diversidade na composição do órgão executivo, nomeadamente no tocante ao equilíbrio decisório e ao grau prudente de risco assumido por cada sociedade.